CONCURSO
DE REDAÇÃO
PRÉ-BIKO
2018
TEMA:
CAMINHOS PARA A VALORIZAÇÃO DO PROTAGONISMO DE MULHERES NEGRAS NA HISTÓRIA DO
BRASIL.
1º
LUGAR – Ludmila Taís de Jesus Souza
A trajetória de mulheres negras na história
do Brasil foi invisibilizada, pois teve como base uma hierarquia branca,
construída sob uma estrutura racista e sexista.
Em virtude disso, parafraseando Lélia
Gonzales, a imagem das mulheres negras no corpo social brasileiro responde a
uma base racista, visto que o corpo feminino foi construído na história associado
a mulatas para a cama e negras para o trabalho. Outro fator que influencia no
apagamento das narrativas das mulheres negras é o epistemicídio, entendido, de
acordo com Suely Carneiro, como a negação da capacidade de produzir saberes e
como a invisibilidade do protagonismo dessas mulheres. O apagamento dá-se,
ainda, pelo ocultamento das contribuições da diáspora africana na história do
Brasil. São exemplos desse apagamento as histórias de Luísa Mahin, Dandara e
Aqualtune, mulheres negras que protagonizaram importantes movimentos de
resistência contra o sistema escravista. Dito de outro modo, omitir essas
narrativas é a efetivação do racismo na produção intelectual e nas construções
das identidades negras.
Como, então, tornar visíveis as contribuições
das mulheres afrodescendentes na história do Brasil? Uma das ações possíveis
para a reparação foi a implementação da Lei 10.639∕03, que estabelece
diretrizes para o ensino da história afro-brasileira nas escolas. Outra forma é
o Projeto Lendo Mulheres Negras, que circula, principalmente, nas redes sociais
com o propósito de resgatar as produções de mulheres negras intelectuais. Além
disso, é preciso mencionar ações políticas e sociais das mulheres negras que se
articulam para construir movimentos de denúncia e reparação das imagens - como
o epistemicídio já citado -, tal qual a Articulação de Mulheres Negras, o
Instituto Odara e o Geledês. Essas são formas de enfrentamento ao racismo nas
suas tentativas de apagamentos e desvalorização das mulheres negras.
A valorização dessas mulheres acontecerá
também através de políticas públicas. Para tal, as escolas precisam elaborar
projetos políticos pedagógicos pautados na Lei 10.639∕03; a sociedade deve
denunciar as imagens estereotipadas de mulheres negras que circulam e o epistemicídio
de suas narrativas; o Estado deve prezar ainda pela aplicação da lei que
regulamenta o ensino da história afro-brasileira com o intuito de
reconhecimento das atividades de mulheres negras na construção da história do
Brasil.
2º
LUGAR – Karise Conceição Campos Brito
A desvalorização das mulheres negras tem suas
origens no racismo e no machismo dos colonizadores, sendo mantido na atualidade
com o mesmo objetivo de dominá-las e silenciá-las, pois o machismo e o racismo
são a base piramidal do Brasil em qualquer tempo.
Apesar de as mulheres afrodescendentes
constituírem a nação nos aspectos políticos, sociais, econômicos, através de
embates de guerra, trabalho escravizado, dentes outros,a sua relevância na
história é sonegada duas vezes mais do que outros grupos que sofrem opressões.
Em meados do século XIX, no lugar correspondente ao atual Parque São Bartolomeu,
em Salvador, Zeferina, líder do povo negro, comandava o Quilombo o Orubu,
lutando pela liberdade dos escravizados. Mesmo desenvolvendo uma trajetória de
resistência negra, como Zumbi dos Palmares, e ter lutado por objetivos
libertários, como fez Maria Quitéria, Zeferina não faz parte dos vultos
históricos vangloriados. Isso, porque,aparentemente, para a elite, é preferível
levantar heróis de um determinado aspecto, que atenda melhor os estereótipos
estabelecidos. Na história das mulheres negras, se encontram todos os
sustentáculos, e o incentivo dessa consciência quebraria a narrativa
cristalizada, abalando toda a estrutura de privilégios.
Conforme o censo do IBGE de 2010, as mulheres
correspondem a 51,51% da população brasileira. Desse contingente, metade são
negros. Porém, quando se trata de representatividade política, esse percentual
cai para 10%; destes, segundo a ONU, menos de 1% é de pretas ou pardas. Essa
desproporcionalidade ocorre por serem elas atingidas por fatores sociais e econômicos.
Por exemplo, assumem famílias sozinhas ainda na adolescência; e, quando estão
na escola, não são incentivadas a assumirem posições de protagonismo. O boicote
feito a elas é similar à reação da elite de outrora, que, tendo notícias da
Revolução do Haiti, no século XIX, intensificou a opressão contra os negros,
pois sabia que poderia não sobreviver a uma revolução daquela, posto que o povo
negro era maioria. Medo bem sintetizado por Simon Bolívar, um líder das
independências de países latinos, quando disseque preferia combater um exército
espanhol a enfrentar um levante negro. Isso porque viu de perto a Revolução do
Haiti.
Nesse sentido, para a ascensão da mulher
negra, é necessário que, por meio da Lei 10.639-03, que inclui nos currículos
escolares a obrigatoriedade do ensino de história afro-brasileira, sejam
publicados pelo Ministério da Educação, junto ao de Cultura, livros escritos
por mulheres negras, como os Conceição Evaristo, pois narram a partir de
perspectivas afirmativas. Deve haver também uma aproximação junto aos
movimentos feministas negros, a fim de que as mulheres afrodescendentes possam
ter referências e visem ocupar posições de poder.
3º
LUGAR – Lucas Santos de Carvalho
Na metade do século XIX, D. Pedro II, ao
promulgar a Lei de Terras, importante para a organização de propriedades
privadas, acabou invisibilizando grande parte das mulheres negras. Os donos de
terras, geralmente da elite branca brasileira, lutaram para que mulheres negras
não tivessem esses direitos.
Nesse sentido, podemos afirmar que a
invisibilidade da mulher negra no mercado de trabalho é uma herança escravista
e também pós-abolicionista? Sabe-se que a Lei Eusébio de Queiroz, principal
meio de proibição do tráfico de escravos para o Brasil, mudou as
características sociais e econômicas do país. Porém, via de regra, o grupo de
mulheres negras continuou, mesmo após a abolição, a exercer a função de
criadas, semelhante à profissão de empregadas domésticas nos dias atuais.
Essas, por sua vez, sofreram com a falta de direitos trabalhistas, levando à
luta do movimento feminista negro para a resolução do problema. Laudelina de
Campos, doméstica e ativista negra, por exemplo, foi referência para a
regulamentação de direitos, como a conquista da carteira de trabalho para
empregadas domésticas, em 1970.Apesar disso, as mulheres negras,mesmo com
direitos do trabalho, permanecem sem visibilidade.
Inegavelmente, a desigualdade educacional
entre a população preta e parda ainda é alta segundo o IBGE, o qual mostra 9,9%
desse grupo em níveis de analfabetismo.Por conseguinte, quando se trata de mulheres
negras, a maioria iletrada está nessa situação para o sustento da família e
lutando diariamente para alimentar os filhos. A exemplo do que foi exposto,
Carolina Maria de Jesus, semi-analfabeta e catadora de
papel, lutou contra as adversidades e se tornou uma das principais escritoras
negras do Brasil. Portanto, a desigualdade na educação afeta muito mais a
negritude feminina no Brasil.
Em suma, a educação deve ser um dos caminhos
de intervenção. O Ministério da Educação e as Secretarias de Educação devem
disponibilizar, já no Ensino Fundamental I, materiais, como livros que mostrem
mulheres negras nos diversos setores sociais, inclusive no mercado de trabalho,
criando, assim, senso crítico e poder de escolha sobre qual profissão seguir.
Ademais, a mídia deve ceder espaços na televisão para a população negra
feminina, como forma de representatividade social.
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