quinta-feira, 25 de outubro de 2018


CONCURSO DE REDAÇÃO
PRÉ-BIKO 2018
TEMA: CAMINHOS PARA A VALORIZAÇÃO DO PROTAGONISMO DE MULHERES NEGRAS NA HISTÓRIA DO BRASIL.


1º LUGAR – Ludmila Taís de Jesus Souza


A trajetória de mulheres negras na história do Brasil foi invisibilizada, pois teve como base uma hierarquia branca, construída sob uma estrutura racista e sexista.
Em virtude disso, parafraseando Lélia Gonzales, a imagem das mulheres negras no corpo social brasileiro responde a uma base racista, visto que o corpo feminino foi construído na história associado a mulatas para a cama e negras para o trabalho. Outro fator que influencia no apagamento das narrativas das mulheres negras é o epistemicídio, entendido, de acordo com Suely Carneiro, como a negação da capacidade de produzir saberes e como a invisibilidade do protagonismo dessas mulheres. O apagamento dá-se, ainda, pelo ocultamento das contribuições da diáspora africana na história do Brasil. São exemplos desse apagamento as histórias de Luísa Mahin, Dandara e Aqualtune, mulheres negras que protagonizaram importantes movimentos de resistência contra o sistema escravista. Dito de outro modo, omitir essas narrativas é a efetivação do racismo na produção intelectual e nas construções das identidades negras.
Como, então, tornar visíveis as contribuições das mulheres afrodescendentes na história do Brasil? Uma das ações possíveis para a reparação foi a implementação da Lei 10.639∕03, que estabelece diretrizes para o ensino da história afro-brasileira nas escolas. Outra forma é o Projeto Lendo Mulheres Negras, que circula, principalmente, nas redes sociais com o propósito de resgatar as produções de mulheres negras intelectuais. Além disso, é preciso mencionar ações políticas e sociais das mulheres negras que se articulam para construir movimentos de denúncia e reparação das imagens - como o epistemicídio já citado -, tal qual a Articulação de Mulheres Negras, o Instituto Odara e o Geledês. Essas são formas de enfrentamento ao racismo nas suas tentativas de apagamentos e desvalorização das mulheres negras.
A valorização dessas mulheres acontecerá também através de políticas públicas. Para tal, as escolas precisam elaborar projetos políticos pedagógicos pautados na Lei 10.639∕03; a sociedade deve denunciar as imagens estereotipadas de mulheres negras que circulam e o epistemicídio de suas narrativas; o Estado deve prezar ainda pela aplicação da lei que regulamenta o ensino da história afro-brasileira com o intuito de reconhecimento das atividades de mulheres negras na construção da história do Brasil.




2º LUGAR – Karise Conceição Campos Brito


A desvalorização das mulheres negras tem suas origens no racismo e no machismo dos colonizadores, sendo mantido na atualidade com o mesmo objetivo de dominá-las e silenciá-las, pois o machismo e o racismo são a base piramidal do Brasil em qualquer tempo.
Apesar de as mulheres afrodescendentes constituírem a nação nos aspectos políticos, sociais, econômicos, através de embates de guerra, trabalho escravizado, dentes outros,a sua relevância na história é sonegada duas vezes mais do que outros grupos que sofrem opressões. Em meados do século XIX, no lugar correspondente ao atual Parque São Bartolomeu, em Salvador, Zeferina, líder do povo negro, comandava o Quilombo o Orubu, lutando pela liberdade dos escravizados. Mesmo desenvolvendo uma trajetória de resistência negra, como Zumbi dos Palmares, e ter lutado por objetivos libertários, como fez Maria Quitéria, Zeferina não faz parte dos vultos históricos vangloriados. Isso, porque,aparentemente, para a elite, é preferível levantar heróis de um determinado aspecto, que atenda melhor os estereótipos estabelecidos. Na história das mulheres negras, se encontram todos os sustentáculos, e o incentivo dessa consciência quebraria a narrativa cristalizada, abalando toda a estrutura de privilégios.
Conforme o censo do IBGE de 2010, as mulheres correspondem a 51,51% da população brasileira. Desse contingente, metade são negros. Porém, quando se trata de representatividade política, esse percentual cai para 10%; destes, segundo a ONU, menos de 1% é de pretas ou pardas. Essa desproporcionalidade ocorre por serem elas atingidas por fatores sociais e econômicos. Por exemplo, assumem famílias sozinhas ainda na adolescência; e, quando estão na escola, não são incentivadas a assumirem posições de protagonismo. O boicote feito a elas é similar à reação da elite de outrora, que, tendo notícias da Revolução do Haiti, no século XIX, intensificou a opressão contra os negros, pois sabia que poderia não sobreviver a uma revolução daquela, posto que o povo negro era maioria. Medo bem sintetizado por Simon Bolívar, um líder das independências de países latinos, quando disseque preferia combater um exército espanhol a enfrentar um levante negro. Isso porque viu de perto a Revolução do Haiti.
Nesse sentido, para a ascensão da mulher negra, é necessário que, por meio da Lei 10.639-03, que inclui nos currículos escolares a obrigatoriedade do ensino de história afro-brasileira, sejam publicados pelo Ministério da Educação, junto ao de Cultura, livros escritos por mulheres negras, como os Conceição Evaristo, pois narram a partir de perspectivas afirmativas. Deve haver também uma aproximação junto aos movimentos feministas negros, a fim de que as mulheres afrodescendentes possam ter referências e visem ocupar posições de poder.



3º LUGAR – Lucas Santos de Carvalho




Na metade do século XIX, D. Pedro II, ao promulgar a Lei de Terras, importante para a organização de propriedades privadas, acabou invisibilizando grande parte das mulheres negras. Os donos de terras, geralmente da elite branca brasileira, lutaram para que mulheres negras não tivessem esses direitos.
Nesse sentido, podemos afirmar que a invisibilidade da mulher negra no mercado de trabalho é uma herança escravista e também pós-abolicionista? Sabe-se que a Lei Eusébio de Queiroz, principal meio de proibição do tráfico de escravos para o Brasil, mudou as características sociais e econômicas do país. Porém, via de regra, o grupo de mulheres negras continuou, mesmo após a abolição, a exercer a função de criadas, semelhante à profissão de empregadas domésticas nos dias atuais. Essas, por sua vez, sofreram com a falta de direitos trabalhistas, levando à luta do movimento feminista negro para a resolução do problema. Laudelina de Campos, doméstica e ativista negra, por exemplo, foi referência para a regulamentação de direitos, como a conquista da carteira de trabalho para empregadas domésticas, em 1970.Apesar disso, as mulheres negras,mesmo com direitos do trabalho, permanecem sem visibilidade.
Inegavelmente, a desigualdade educacional entre a população preta e parda ainda é alta segundo o IBGE, o qual mostra 9,9% desse grupo em níveis de analfabetismo.Por conseguinte, quando se trata de mulheres negras, a maioria iletrada está nessa situação para o sustento da família e lutando diariamente para alimentar os filhos. A exemplo do que foi exposto, Carolina Maria de Jesus, semi-analfabeta e catadora de papel, lutou contra as adversidades e se tornou uma das principais escritoras negras do Brasil. Portanto, a desigualdade na educação afeta muito mais a negritude feminina no Brasil.
Em suma, a educação deve ser um dos caminhos de intervenção. O Ministério da Educação e as Secretarias de Educação devem disponibilizar, já no Ensino Fundamental I, materiais, como livros que mostrem mulheres negras nos diversos setores sociais, inclusive no mercado de trabalho, criando, assim, senso crítico e poder de escolha sobre qual profissão seguir. Ademais, a mídia deve ceder espaços na televisão para a população negra feminina, como forma de representatividade social.